
Das 18 espécies do gênero Spondias, como umbu-cajá, cajarana,
ceriguela e umbuguela, várias são pouco estudadas e sua produção é
totalmente extrativista, ou seja, são coletadas diretamente da natureza e
não cultivadas em pomares comerciais. Por conta disso, parte de um
trabalho de pesquisa na Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) distribui
mudas e ajuda a manter bancos de germoplasma dessas frutas.
A mais
famosa é o umbu, fruto do umbuzeiro, planta tão importante para o
sertanejo que foi citada pelo escritor Euclides da Cunha no livro Os
Sertões, de 1902: “É a árvore sagrada do sertão. Sócia fiel das rápidas
horas felizes e longos dias amargos dos vaqueiros. Representa o mais
frisante exemplo de adaptação da flora sertaneja”. Mais que isso, o umbu
só existe nessa região.
Todas as plantas do gênero Spondias têm
crescimento lento, mas são tolerantes à seca e têm boa produtividade em
locais sem irrigação. Principalmente por essa característica, têm
bastante importância para o Semiárido. “Muitas vezes, o umbu produz
independentemente da chuva. Mesmo com pequena chuva ou trovoada, ela
produz, garantindo uma renda para o pequeno produtor e, até mesmo, sua
sobrevivência”, afirma Nelson Fonseca, pesquisador da Embrapa Mandioca e
Fruticultura.
Umbu: O cosmético que vem da Caatinga
Multiplicação por enxertia
A resistência à seca tem explicação. “O umbuzeiro tem raízes túberas ou xilopódios [que armazenam água e nutrientes]. Hoje há plantas muito velhas no Semiárido que estão morrendo. Além disso, existem os produtores que derrubam a vegetação, destruindo as plantas do umbuzeiro para a formação de pastos, a ocorrência de incêndios no período seco que matam a vegetação e as pequenas plantas que nascem das sementes que são comidas pelos próprios animais que vivem no semiárido. Tudo isso impede que os umbuzeiros se renovem”, explica Nelson.
A resistência à seca tem explicação. “O umbuzeiro tem raízes túberas ou xilopódios [que armazenam água e nutrientes]. Hoje há plantas muito velhas no Semiárido que estão morrendo. Além disso, existem os produtores que derrubam a vegetação, destruindo as plantas do umbuzeiro para a formação de pastos, a ocorrência de incêndios no período seco que matam a vegetação e as pequenas plantas que nascem das sementes que são comidas pelos próprios animais que vivem no semiárido. Tudo isso impede que os umbuzeiros se renovem”, explica Nelson.
Há uma carência
para a formação de mudas selecionadas do gênero Spondias, pois existe
pouco material propagativo selecionado. As plantas de umbuzeiro, por
exemplo, são mais encontradas na zona rural, onde são atacadas pelos
animais, que comem ramos, folhas e frutos. Já as de umbu-cajazeira estão
em zonas urbanas, desaparecendo pela ação predatória do homem, que as
destroem para ganhar mais espaço no quintal.
Apesar de ser
possível a propagação das Spondias por sementes, o método ideal é por
enxertia. A principal vantagem da muda enxertada está relacionada à
garantia de manutenção das características da planta propagada, o que
não é possível na muda produzida por meio de semente. Outra vantagem
está na formação de pomares comerciais mais uniformes no tamanho de
plantas e na produção de frutos, além da antecipação do início de
produção.
De acordo com Nelson Fonseca, os materiais selecionados
de umbu e umbu-cajazeira, por exemplo, recebem o nome da pessoa,
propriedade, comunidade ou município onde foi feita a coleta. Se um
material foi selecionado em América Dourada, ele é chamado de América
Dourada. “Nesse caso, não são variedades, pois ainda não foram lançados
como variedades. São tipos diferentes originados de uma hibridação ou
cruzamento natural e se destacaram quanto ao tamanho de frutos, bom
paladar e boa percentagem de polpa, entre outras características,”
explica. Esse material é coletado para fazer enxertia. Fonseca conta que
há previsão de lançar cinco ou seis variedades de umbuzeiro e até 14
materiais de umbucajazeiras. “Nós temos propagado esse material, como se
fosse uma validação”, diz. Ainda não há data para lançamento porque
depende de autorização do Conselho de Gestão do Patrimônio Genético
(CGEN), órgão do Ministério do Meio Ambiente, já que diz respeito à
biodiversidade brasileira.
Preservação
Com o objetivo de
colaborar com a preservação da espécie, a Embrapa Mandioca e
Fruticultura, a Embrapa Semiárido (PE) e a Empresa de Pesquisa
Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) cederam, em 2006, para o campus do
Instituto Federal de Educação (IF) em Guanambi (BA), mudas de
umbuzeiros e umbucajazeiras. “A Embrapa colocou em nosso instituto uma
coleção de 26 clones, totalizando 140 plantas. Dessas, 80 plantas têm
nove anos. Nós já estamos produzindo há quatro. As outras 60 fizeram
cinco anos em novembro e vão iniciar a produção, ainda pequena, esse
ano. A grande importância desse banco é a conservação desse material, já
que ele tem uma variabilidade grande. É uma coleção que tem materiais
da Bahia, de Minas Gerais e de Pernambuco, também considerados os
melhores clones em tamanho. Isso é de fato um trabalho muito importante
para a preservação da espécie na Caatinga”, explica o
engenheiro-agrônomo Sergio Donato, professor do IF Baiano.
Segundo
ele, o peso médio de um fruto de umbuzeiro é em torno de 18 gramas, mas
os clones de umbu da coleção superam em muito esse valor. “O peso médio
do clone MG-01, originado de Lontra (MG), é 98 gramas, mas existem
outros também quase do mesmo tamanho. Quando se fala por aí de umbu
‘gigante’, todo mundo normalmente se refere a esse clone, ele é o mais
difundido. O peso médio desse clone é 98, mas ele chega a 160 gramas”,
complementa o professor.
Para
Donato, o umbuzeiro é uma cultura de fácil manejo, por ser adaptada às
condições ecológicas. “Se você pensar que no Semiárido outras plantas
demandam água, trabalhar com o umbu é mais tranquilo. É lógico que não
pode ser no ‘bodismo’, você colocar a planta e achar que ela vai
sobreviver. Uma vez passada a fase inicial, a manutenção é mais fácil”,
afirma. O professor destaca ainda o clone CP-47, com características
exóticas, com apelo também ornamental, originado de São Gabriel, BA,
cujos frutos pequenos e doces são dispostos em cachos, parecidos aos de
uva, com até 25 frutos.
Mercado em expansão
O negócio
agrícola do umbu envolve a colheita, o beneficiamento e a
comercialização do fruto, tendo grande potencial de exploração
agroindustrial. Os frutos são muito apreciados para o consumo como fruta
fresca ou processada sob forma de polpas, sucos, doces, néctares,
picolés e sorvetes. Recentemente, têm sido introduzidos na chamada
gastronomia brasileira, que reúne sabores típicos regionais.
O
processamento é muito importante na época da colheita, caso contrário,
grande parte dos frutos poderá ser perdida. “Muito desse material é
armazenado em polpas para ser consumido durante o ano todo. Para o
agricultor, isso é agregação de valor, é um aumento de renda para ele.
Na época de janeiro a março, em que se concentra o pico da safra, é
importante ter esse processamento”, explica Nelson Fonseca.
Existe
um amplo mercado interno e externo a ser explorado, que, atualmente,
ainda é muito restrito às regiões Norte e Nordeste. Seus frutos são
bastante usados pelos produtores de forma artesanal – em especial para a
produção de geleias – mas na Bahia já ganhou cunho empresarial com a
Cooperativa de Produção e Comercialização dos Produtos da Agricultura
Familiar do Sudoeste da Bahia – (Cooproaf), que tem 63 cooperados, e com
a Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá
(Coopercuc), formada por 204 cooperados, em sua maioria mulheres, e que
já comercializa seus produtos nos mercados mais sofisticados do Brasil e
exporta para Itália, França e Áustria.
De acordo com o
pesquisador, o plantio de áreas comerciais deve ser incentivado para que
se consiga suprir a demanda. Por isso, a Embrapa pretende, em breve,
disponibilizar um sistema de produção. Hoje, a Unidade de pesquisa
repassa mudas enxertadas aos produtores que doaram as primeiras sementes
para a formação da coleção de Spondias.
Produção rentável
Mais
recentemente, as fruteiras do gênero Spondias começaram a ser usadas em
sistemas agroflorestais (SAFs), inclusive na Mata Atlântica, como
alternativa para agricultores familiares do litoral sul da Bahia, onde
se cultiva prioritariamente cacau. Práticas específicas de manejo
cultural e novas combinações e arranjos de SAFs estão sendo testadas
pela Embrapa Mandioca e Fruticultura, sob a liderança do pesquisador
Marcelo Romano.
Dilermando Morais Fonseca, técnico da Secretaria
de Agricultura da Prefeitura Municipal de Vitória da Conquista (BA), é
um fã particular do umbuzeiro. “A nossa luta é transformar o umbuzeiro
em planta cultivada, é pela domesticação da espécie, porque hoje ela
ainda é fruto do extrativismo. São milhões e milhões de reais que rodam a
cada safra no Nordeste, na beira da estrada, na feira, na indústria de
polpa. É algo que chamo de economia invisível, porque se a gente
procurar algum dado econômico não existe absolutamente nada”, assegura.
Em
parceria com a Embrapa, foi criado nessa secretaria municipal um banco
de germoplasma, hoje com 750 plantas. Destas, cerca de 30 foram
classificadas como gigantes. “Além das plantas cedidas pela Embrapa,
mais uns sete ou oito a gente garimpou por aqui”, diz.
A paixão de
Dilermando Fonseca é tão grande que, em paralelo ao trabalho na
secretaria, ele também ingressou na produção. “Já que eu incentivo tanta
gente a cultivar, por que não eu também? Eu vou produzir o fruto, o
umbu. Agora, é claro que sempre há a possibilidade de formação de mudas
porque a gente tem que fazer a poda anual”, salienta.
No distrito
de Pedra Preta, em Anagé (BA), o agricultor José Ferreira Novaes cultiva
o umbu nativo, cujas árvores têm cerca de 50 anos, e o gigante, cujas
mudas vieram da Embrapa Semiárido há 12 anos. Os frutos do umbu nativo
são consumidos pelo gado da propriedade e os gigantes são vendidos.
Novaes, mais conhecido como Dodô, destaca a produtividade. “Pra mim é
muito boa. Os umbus “de raça”, que chamam de gigantes, carregam
bastante, produzem muito. O nativo produz entre oito e nove anos e o
gigante com seis anos já começou a produzir. Em 2013, colhi 80 caixas do
umbu de raça. Em 2014, foram 90 e poucas caixas. Meus 33 pés renderam
R$ 3 mil na safra passada. Para 2015, eu quero ganhar R$ 4 mil”,
planeja.
Pequenos produtores como Dodô e Dilermando são
fundamentais para que a expectativa do pesquisador Nelson Fonseca se
concretize: “Quando outras regiões do País e até do mundo conhecerem
mais o fruto do umbuzeiro, vai ser uma redenção para o Nordeste”,
espera.
http://meioambienterio.com/2016/03/14342/umbu-e-outras-frutas-nativas-sao-boas-opcoes-para-agricultura-familiar/
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