Rio -
"Vou abrir um negócio próprio”. Quantas vezes você já ouviu essa frase
de quem está fora do mercado ou que sonha com a autonomia? Tornar-se o
seu próprio patrão tem sido a alternativa de muitos brasileiros diante da alta do desemprego no país.
Segundo a Pesquisa
Mensal de Emprego (PME), do IBGE, o número de pessoas que trabalham por
conta própria (formal ou informal, e que não seja empregador) nas
Regiões Metropolitanas do Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de
Janeiro, São Paulo e Porto Alegre bateu o recorde de 4,650 milhões em
dezembro de 2015, o maior desde o início da série, em 2002.
Ernesto, do 'Espírito de Porco', usa maçarico para tostar pele do animal. Porchetta e hambúrguer suíno saem a R$ 20
Foto: João Laet / Agência O Dia
Os números mostram que cada vez mais brasileiros
estão apostando nas suas ideias para transformá-las em negócio. Foi o
que fez o cozinheiro Ernesto Pieroni, 33 anos, que vende sanduíche de
carne suína em feiras do Rio — a especialidade é a porchetta, prato
típico italiano feito lateral do porco desossada.
Depois de deixar um emprego em restaurante, criou, com o sócio Ragi
Achacar, 64, o ‘Espírito de Porco’. Com um investimento inicial de R$ 5
mil, compraram uma barraca em março do ano passado e em agosto já
estavam com um food-truck (trailer). Hoje contam com 15 pessoas e uma cozinha industrial.
Para entrar no mercado, o técnico cervejeiro Leopoldo criou a MotoCerva e fatura em eventos do Rio
Foto: Divulgação
“Escolhemos um produto
que nem todos têm ou sabem fazer. No início, eram quatro eventos por
mês. Hoje, são quatro por fim de semana. E a nossa cozinha ficou pequena
e queremos abrir uma loja”, diz Ernesto.
Eles
mostram ainda que o comércio de alimentos é uma das áreas mais
promissoras este ano. Em meio à crise econômica, negócios como reparação
de veículos e motos, conserto de computadores e recarga de cartuchos,
confecção de roupa, cabeleireiros e estética também lideram a lista de
negócios em alta do Sebrae.
Acertar na escolha do
negócio e diferenciar-se no mercado também foi o fator de sucesso da
MotoCerva, um bar itinerante instalado em uma motocicleta com quatro
tipos de chopes artesanais da Röter, fábrica de Barra do Piraí, no Rio,
criada pelo técnico cervejeiro Leopoldo Mayrinch, 32.
“Vendi
meu carro para comprar a moto e investir no negócio. Em seis meses tive
retorno. Hoje, há outros vendedores mas procuramos ter uma boa relação
para não perdermos espaço. Nos falamos pelo WhatsApp para evitarmos ir
para o mesmo evento quando oferecemos produtos parecidos”, conta ele,
que também usa o Facebook para divulgação.
Olho na concorrência e também na divulgação
Além
da visão de mercado, estudar os concorrentes é uma das dicas para
lucrar. Leva vantagem quem já tem conhecimento na área, ensina o
coordenador do Sebrae na Zona Norte, Leandro Marinho. Segundo o
especialista, investir ‘do zero’ em algo com que não se tem experiência
não é um impedimento, mas exigirá mais estudo. “Na medida que se escolha
um negócio com algum contato anterior, aumentam as chances de ser bem
estruturado”, diz.
Larissa transformou atividade que gostava em negócio, mas ainda está em fase de investimentos
Foto: Divulgação
Para o professor e coordenador do MBA em
‘Administração: Empreendedorismo e Desenvolvimento de Novos Negócios’,
da FGV, Marcus Quintella, um erro cometido pelos empreendedores, e que
leva à quebra da empresa, é não fazer pesquisa de mercado. “Tem que
testar o produto, saber a área de venda, estudar quem são os
concorrentes e saber como eles podem complementar o seu”, diz ele. “Quem
não tem recurso para isso, pode ir ao local, perguntar e decidir pela
percepção. O vendedor de salgado tem que ir no local onde quer
comercializar e saber o que se vende ali, o que está em falta e se
existe demanda”.
A técnica em Gestão de Projetos, Larissa
Dias, 31, foi demitida em 2014 e usou o dinheiro da rescisão para fazer
curso de Personal Organizer e montar o ‘Me and Mommy Organizer’. “Eu já
fazia como hobby, mas me qualifiquei”, conta ela, que também usa o
Facebook para visibilidade.
Mercado crescente
No
Brasil, o número de microempreendedores individuais (MEIs) ultrapassou o
número de micro e pequenas empresas. Desde sua criação em 2008, até
janeiro, o país já formalizou mais de 5.720.194 micro empreendedores
individuais, ou seja, quase 20 % a mais de MEIs sobre o número de micro e
pequenas empresas (MPEs) abertas, que totalizam 4.777.069. Assim, o
número de pequenos negócios empresariais (MEIs + MPEs) chega a
10.497.263.
O Microempreendedor Individual (MEI) trabalha por
conta própria, ou tem um empregado. O faturamento anual é de até R$ 60
mil. Ele se constitui pelo Portal do Empreendedor e fica inscrito no
Simples Nacional e tem a vantagem da carga tributária reduzida. Ele paga
INSS, ICMS (se for indústria ou comércio) e/ou ISS (atividades de
serviço). O pagamento é fixo e mensal, independente do que faturar. A
microempresa tem faturamento anual de R$ 60 mil a R$ 360 mil. A pequena
empresa de R$ 360 mil a R$ 3,6 milhões. A formalização é na Jucerja.
Passos para o sucesso no negócio próprio 1- Escolha do negócio
A
escolha de um negócio com o qual já se tenha experiência é uma vantagem
para o empreendedor. Especialista do Sebrae, Leandro Marinho lembra que
o contato anterior com a área é fundamental. Se você investir em algo
que não tem conhecimento, estude e converse com pessoas da área. Opte
por algo não só pela paixão, mas que tenha mercado. O Sebrae presta
consultoria gratuita a quem pretende empreender ou que já tenha empresa.
Informações em qualquer unidade ou pelo Telefone : 0800 570 0800.
2 - Estude a área
Definido
o negócio, é fundamental que se esgote ao máximo a possibilidade de
conhecimento da área. “Pergunte a potenciais clientes seus gostos e
necessidades. Quanto mais informação, mais elementos para que a empresa
seja estruturada e cresça”, diz Leandro.
3 - Local
O
ponto de venda, seja fixo ou itinerante, tem que ser avaliado. Por
exemplo, antes de decidir abrir uma loja em uma área, pesquise se haverá
mercado para seu produto. Em muitos casos, isso é feito por percepção
do empreendedor, que visita os locais e pergunta. Mas esse dado é obtido
no detalhamento do Plano de Negócios (abaixo), feito gratuitamente com
consultores do Sebrae ou com algum especialista contratado. 4 - Plano de negócios
É
o que vai estruturar o negócio, minimizando os riscos de quebra da
empresa. O plano faz um levantamento dos recursos que serão necessários
para investir e manter o empreendimento. Leva em consideração potenciais
compradores e fornecedores, quais são os concorrentes e como eles
funcionam, e se eles se posicionam de forma aglomerada ou em pontos
diversos. O empreendedor terá que colocar no papel todos esses custos.
Mas especialistas alertam que esse serviço deve ser feito com auxílio de
profissionais (como contador). Há orientação gratuita de técnicos do
Sebrae e o documento é disponível no site.
5- Capacitação
Muitos
têm pressa para montar o negócio, mas não se preparam para ser gestor.
“Um padeiro pode ser bom profissional, mas a gestão da padaria envolve
capacitação. É uma atividade diferente de fazer pão”. É preciso aprender
a gerenciar pessoas, recursos financeiros e a questão da logística de
fornecedor. Procure cursos acessíveis.
6- Diferencial
O mercado tem inúmeras atividades. É importante se diferenciar para que o seu produto agregue mais valor que o do concorrente.
7- Finanças
No
cenário atual, muitas pessoas demitidas estão pegando dinheiro da
rescisão e investindo em um negócio. Mas é preciso ter verba para
manutenção da empresa. “Muitos investem todo o capital na construção da
empresa, e depois não têm o capital de giro, que é o dinheiro para o dia
a dia da empresa, para pagar fornecedor etc. Um bom plano de negócios
ajuda a enxergar isso”, diz Leandro. Também é imprescindível separar as
contas da empresa das pessoais.
8 - Financiamento
Para
quem precisar de empréstimo bancário, o especialista faz um alerta: o
ideal é obter crédito na abertura da empresa e não para capital de giro.
“Em geral, sai mais barato. Há créditos voltados para compra de
produtos e equipamentos, por exemplo”. O empreendedor tem que buscar
informação para saber o que é mais favorável.
9 - Enquadramento da empresa
O empreendedor deve verificar se sua atividade pode ser enquadrada como MEI, microempresa ou pequena empresa e se formalizar.
10 - Divulgação
É
fundamental o esforço para que a empresa apareça. Faça contatos com
amigos e pessoas do ramo, divulgue em mídias sociais. Tem que ser
criativo.
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