
Abertura da COP21 comprova que a China, líder mundial em emissões, está
aos poucos mudando de postura e buscando energias mais limpas.
Desaceleração econômica, porém, pode ser obstáculo para as metas
climáticas globais.
A ascensão da China de um país em desenvolvimento para uma superpotência
global em apenas meio século tem fascinado o mundo. Mas o progresso tem
um preço: o gigante da economia asiática lidera o ranking global de
emissões de gases poluentes.
O crescimento econômico da China é o resultado de sua rápida expansão
industrial. Em 2011, ultrapassou os EUA como o país de maior consumo de
energia. Em 2012, mais de dois terços da energia chinesa foram
direcionados para o setor industrial. As autoridades chinesas argumentam
que ainda têm de recuperar o tempo perdido em relação ao Ocidente em
termos de industrialização; assim, eles não poderiam reduzir
drasticamente as emissões – pelo menos por enquanto.
Mas parece haver uma mudança de atitude em Pequim. Pouco antes do início
da Conferência do Clima em Paris (COP21), a China anunciou estar
planejando rever a sua política energética. Numa versão preliminar do
13° "plano quinquenal", publicado no início de outubro, o governo
apresentou propostas para energia limpa e proteção ambiental. Uma versão
detalhada do documento será divulgada no próximo ano. Na abertura da COP21, o presidente dos
Estados Unidos, Barack Obama, e seu homólogo chinês, Xi Jinping, se
comprometeram a trabalhar juntos para impulsionar um acordo para
combater as mudanças climáticas.
O problema central
A dependência da China de carvão para gerar energia é um dos maiores
fatores por trás da poluição ambiental. Desde a década de 1980, o país
vem consumindo ao menos metade do carvão produzido no mundo – a maior
parte para uso industrial. Igualmente elevadas são as emissões de gases estufa da China. De acordo
com um estudo de pesquisadores da Universidade de Harvard, o país emite
tanto CO2 quanto a União Europeia e os EUA juntos. As partículas de
dióxido de carbono que emergem das instalações industriais e dos fornos
prejudicam o meio ambiente e aceleram o aquecimento global.
Além disso, a poluição ocasionada pelo tráfego de veículos enche de smog
cidades como Xangai, Chongqing e Pequim. Nesta terça-feira, o governo
ordenou o fechamento de 2.100 fábricas e pediu à população para que não
saia às ruas devido ao agravamento da poluição, que na capital registra
valores 24 vezes acima do que é considerado seguro para a saúde.
Ao longo da última década, o consumo de carvão da China tem crescido a
uma taxa anual de 10%. No ano passado, no entanto, ele diminuiu em quase
três pontos percentuais. Para 2015, o governo espera uma nova redução.
De acordo com especialistas da London School of Economics, o consumo de
carvão da China vai vivenciar uma drástica queda – mas somente após
2020.
Energia renovável
É provável que a China avance finalmente rumo a fontes renováveis de
energia, e já há sinais positivos disso. Pequim está gastando a soma
recorde de 89 bilhões de dólares em projetos relacionados com energias
renováveis.
A energia hidrelétrica pode também ser a fonte renovável para a China.
Quase um quinto da eletricidade do país vem hoje desse meio. Três
Gargantas, na província de Hubei, é a maior usina hidrelétrica do mundo,
mas também uma das instalações mais controversas do planeta. Por volta
de 1,3 milhão de pessoas foram forçosamente realocadas durante a sua
construção. Além disso, o reservatório está poluído com resíduos
industriais.
Com a ajuda do vento, a China pode produzir ainda mais energia elétrica
do que gera por meio de usinas nucleares. O país vai construir um
projeto de energia eólica – o maior parque eólico do mundo – ao norte da
província de Gansu.

Turbulências econômicas como obstáculo
No entanto, especialistas do Instituto Mercator de Estudos sobre a China
veem a atual desaceleração da economia chinesa como um revés para as
metas climáticas do país. "A crise econômica significa que a China não será capaz de reduzir as
emissões de CO2", escreveram em estudo os pesquisadores Jost Wübbeke e
Björn Conrad. "Depende de como será gerado o futuro crescimento."
Ao mesmo tempo, Wübbeke e Conrad dizem acreditar que a China pode
impulsionar o seu crescimento por meio de uma reestruturação econômica,
mantendo sob controle as emissões de CO2. Mas isso não pode acontecer
nos próximos anos, explicam, enquanto a China tem de fazer um monte de
dever de casa "para prestar uma contribuição significativa com vista à
prevenção das perigosas mudanças climáticas."
O Climate Action Tracker, organismo que abrange diversos centros de
investigação e que analisa as emissões e compromissos dos países,
classificou o esforço chinês como "médio". Os analistas apontam que as
propostas chinesas para a proteção climática, que foram apresentadas na
Conferência do Clima em Paris, não são suficientes para limitar o
aquecimento global abaixo dos 2°C.
Como alternativa, eles sugerem que o país estabeleça metas maiores e se
concentre em remodelar a sua indústria energética o mais rapidamente
possível.
http://www.dw.com/pt/o-desafio-chin%C3%AAs-de-crescer-sem-poluir/a-18887657
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