Fernanda Bassette - O Estado de S.Paulo
Entre fevereiro e setembro deste ano, 88 mulheres trocaram suas próteses de
silicone das marcas PIP ou Rofil em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS). O
levantamento inédito, feito pelo Ministério da Saúde a pedido do Estado, mostra
que o Rio Grande do Sul concentra a maioria dos casos: lá, 38 mulheres trocaram
pelo SUS, enquanto no Acre, por exemplo, houve uma troca.
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Vinicius Costa/VCF/Estadão
Luzia Serra Brehm, de 40 anos, foi uma das
primeiras a passar pela troca do implante da PIP pelo SUS
Entre os Estados com maior número de trocas até setembro estão São Paulo, com
16 cirurgias, seguido do Rio de Janeiro, com 7, e de Minas Gerais, com 6.
Maranhão e Espírito Santo tiveram 1 troca cada.
Em meio ao escândalo envolvendo os problemas com as próteses PIP e Rofil -
que eram feitas com silicone industrial, não indicado para uso em saúde -, a
presidente Dilma Rousseff determinou que o SUS e os planos de saúde fizessem a
troca das próteses, caso fosse constatado o rompimento, mesmo nos casos de
mulheres que colocaram as próteses por motivos estéticos.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o País importou
34.631 unidades das duas marcas, das quais 24.534 foram comercializadas. As
outras 10.097 próteses foram recolhidas e destruídas.
Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, as 88 cirurgias feitas pelo SUS
até agora reforçam que a medida do governo de indicar a troca apenas para casos
de rompimento ou em casos excepcionais (como em mulheres com câncer) foi
acertada.
"Esse é um balanço inicial, mas mostra que o nosso critério de indicação da
cirurgia foi correto. Houve muita discussão, teve país que recomendou que todas
as mulheres trocassem as próteses. Não havia necessidade de fazer trocas
indiscriminadas", diz.
Para a cirurgiã plástica Wanda Elisabeth Correa, presidente da comissão de
silicone da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, 88 cirurgias pelo SUS é
um número muito baixo em comparação com o número de mulheres que usavam essas
próteses. "Tem médico que, sozinho, trocou mais de cem próteses PIP."
Particular. Wanda acredita que muitas mulheres fizeram a
troca na rede privada porque estavam preocupadas e porque seus médicos devem ter
negociado o parcelamento dos valores. "Os médicos chamaram suas pacientes. Eles
foram pegos de surpresa tanto quanto elas. Por isso, imagino que muitos devem
ter negociado valores", diz.
Segundo Wanda, muitas mulheres não quiseram esperar pelos trâmites do sistema
público. "O SUS não abriu uma porta nova para essas mulheres. A porta era a
mesma e muitas vezes demora mais do que gostaríamos."
Esse é o caso da esteticista Patrícia, de 36 anos, que mora no interior do
RS. Ela já havia retirado o útero e os ovários por causa de um câncer, mas suas
próteses não estavam rompidas. Patrícia entrou na Justiça e conseguiu uma
liminar que determinou a troca da prótese pelo SUS.
Segundo Anderson Leff Paz, advogado e marido de Patrícia, ela estava muito
preocupada e com depressão, por isso não quis esperar e decidiu pagar pela
cirurgia. Agora, pede ao SUS o ressarcimento do valor. "O médico não cobrou.
Pagamos R$ 1,8 mil pelas próteses e R$ 950 pelas despesas do hospital", afirmou
Paz.
Redução do preço. Na semana passada, o ministro Padilha fechou um acordo com
as duas fabricantes brasileiras de silicone para redução no preço das próteses
que serão fornecidas para o SUS. O acordo estabelece o preço de R$ 505 por
unidade, valor cerca de 31,7% menor que o praticado no mercado (R$ 740).
"Depois de meses de negociação, firmamos esse acordo. As empresas nos
garantiram que vão praticar esses valores na saúde suplementar e também na rede
privada, caso a mulher opte por comprar uma dessas marcas", afirmou Padilha.